Pensem que c omo pensei, nesses dias, sobre a morte do irmão, embora mais moço do que eu 14 anos. Como me disse Humberto Mello: “Ele furou a fila”, ou na frente da metade dos seus sete irmãos. Era um homem desprendido no ter, no vestir, em colecionar sucessos e vitórias. Menos, inteligentemente, nas coisas do mundo do saber e do exercício do pensar. Talvez para se distrair, vocacionou-se a jogar e a estudar xadrez, com obstinada curiosidade. Jogava, mesmo com satisfação da vitória lúdica, comparava o tabuleiro como se fosse um teatro no plano da vida, tornando-se conhecido, nas ruas da cidade, nacional e internacionalmente nos campeonatos, como Chiquinho do Xadrez. Seu valor se constituiu bem maior dos que os valores transitórios, que, por isso, não são raros no tempo. Morreu indesejadamente, como a flor que se destaca no jardim, e depois sob intensos brilhos do Sol, fenece. Mas, Sigmund Freud poetizou essa realidade: “Se existe uma flor que floresce apenas durante uma noite, nem por isso é menor o seu esplendor”.
Contudo, Francisco de Assis Cavalcanti, com o gosto do Absoluto, refletia sobre nossa natureza finita como caraterística essencial da nossa existência. Ninguém escapa desse xeque-mate. Como todas as coisas que acontecem, jogos e vitórias, da sua consagrada imortalidade nessa inteligência, porém, na fluência desse rio que corre para o mar, há o encontro, de repente, com as ondas. Percebeu ele essa caminhada, avistando a imensidão, aonde o rio corria, quando pensava, nos derradeiros momentos, o perceptível segredo da transitoriedade. Há pessoas, como Francisco de Assis, que nos planos de Deus, deveriam ser menos ageiras, entre nós e dentre aqueles que desmerecem estar vivendo para os outros. Embora nossa natureza seja finita, mereceria ele continuar vivendo entre nós.
Mas, retorno a reconhecer que coisas belas são efêmeras, como os campos revestidos de flores, para logo se transformarem em planícies vazias, também invadidas pela tristeza da morte. Francisco mesmo demonstrava aceitar o enigma da transitoriedade, sem se comparar com as longevas existências. Morreu Francisco, quem mais fez pela história do xadrez na Paraíba, com repercussões no nosso Nordeste e em centros maiores do nosso país. De uma memória surpreendente, jogava em vários tabuleiros simultaneamente; e sabia posteriormente as jogadas que procedia, como foram os casos de relatar aos jornalistas as vitórias em Brasília, Imperatriz, Fortaleza, Natal, Goiânia, Manaus, Rio, São Paulo e em Nice, na França, em companhia do saudoso e amante do xadrez Frank Lins.
Lançou em Recife, com prefácio meu, seu livro Xadrez Para Todos. Por esse objetivo, sua casa era tomada como encontro de xadrezistas e Clube de Xadrez do Miramar. Há tempo, dedicava-se ao seu Projeto Xadrez na Escola da Rede Municipal de João Pessoa, depois de ser professor em várias escolas particulares. Vibrava ensinar às crianças, como se estivesse prevendo o futuro dessas sementes no mundo do xadrez: era o seu sonho, o que testemunha o exímio jogador, o jornalista Fernando Melo. Quanto a mim, porque o iniciei no xadrez, essa foi sua trajetória de vida, sobretudo, quando menino, atração dos jogos escolares e da cidade de João Pessoa; criança temida no xadrez, jogando com adultos. Menino adolescente de demonstrada crescente potencialidade e hoje, imortal paraibano no xadrez…
O luto, mais transitório do que a morte, mais certa do que nossas incertezas, não ofuscará o brilho de Chiquinho, que tanto engrandeceu a História do Xadrez…
POST SCRIPTUM: As cinzas de Chiquinho do Xadrez, a pedido seu em vida, serão lançadas ao sal das águas marítimas, às 10:00 horas de sábado, 31/05/2025, onde ele, menino, conheceu o mar, na Praia de Cabo Branco, em João Pessoa, bem em frente à Fundação Casa de José Américo.