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Humildade e bondade de Chiquinho do Xadrez (Damião Ramos Cavalcanti)

 

         

          A inveja é coisa manifestada em termos obscuros, ambíguos, mas percebida facilmente na cara do invejoso, quando, diante de um elogio a outro ou a outros que não seja ele próprio. Não chega ser um enigma, logo é decifrada. Embora o invejoso sofra com alguma espécie de enigma que não contenha iração à sua pessoa, aquela que, pelo reflexo narcisista, ele vê no espelho. Já defini em crônica que a inveja procede de uma comparação que o invejoso faz de si próprio em relação a um outro que é e ele não é; com outro que tem e ele não tem.
          Vi esse cenário, dias atrás, quando o brilhante enxadrista, Chiquinho do Xadrez, recentemente falecido, era elogiado pela sua grandeza e páginas da história do Xadrez, na Paraíba e fora da sua terra. Escreveu Xadrez Para Todos; sendo grande amante e, inúmeras vezes, campeão de xadrez; validando assim seus títulos, por duas vezes, reconhecidamente de Mestre FIDE; publicando em Revista Internacional, duas jogadas suas, originais e inéditas, que continuam a contribuir para a ciência do xadrez.

          Mas, a alma de Chiquinho, que muito mereceu um minuto de silêncio, em solenidade da vetusta Academia Paraibana de Letras, bendiz e cumpre o dizer do escritor português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, no poema Mar Português, cujas águas se unem às do mar, na Praia do Cabo Branco, onde Chiquinho conheceu o mar, e aonde, a pedido seu, suas cinzas foram lançadas.     

          A frase “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, uma das mais famosas de Fernando Pessoa, faz parte do livro Mensagem, interpretada como um chamado à coragem e à ambição da generosidade, sugerindo que esforços e sacrifícios valem a pena, quando a alma está aberta e disposta a enfrentar desafios, na realização da bondade. Disse no seu velório, que este meu irmão se dedicava às crianças pobres, gratuitamente  ensinando-lhes Xadrez; tinha como ideologia o Bem Comum, sobretudo visando os pequenos. Por isso, dava tanto valorização aos peões, relevando-os em comparação à rainha, rei, bispos, cavalos e torres. Era assim que construía a caminhada ao xeque mate.
         Seu amigo, Carlos Soares, irmão camarada, desde os 10 anos de idade, crescendo juntos, no Bairro de Miramar em João Pessoa, nadando e jogando futebol no ECCB, ao comentar a crônica Chiquinho, imortal paraibano no Xadrez, no Recanto das Letras, emocionado, recordou seus gestos e estilo no xadrez e a sua superioridade, respeitando seus companheiros de partida. Hospedou-o na sua casa em Maricá, no Rio de Janeiro, para Chiquinho disputar o Campeonato Brasileiro de Xadrez, em Araruama. Chiquinho era o destacado comentário daquela ocasião, naquele evento; venceu todas as partidas e, quando, na final, já visivelmente vitorioso, porém abnegado e desprendido, sorrindo, cede ao adversário o prêmio e a ida a Moscou, totalmente  financiada. Discretamente, Chico deu a seguinte explicação: “Ele é mais jovem do que eu e já tenho muitos títulos; ele merece se projetar. Também estou sem condições de viajar à Rússia para disputar o Mundial. Ele irá no meu lugar…”  Carlos testemunhou não acreditar: ”Pois, Chiquinho estava com a partida ganha”. Contudo, venceram a humildade e a bondade de Chiquinho do Xadrez, como se afirmasse que a inteligência faz o que pode; e a genialidade, o que deve… 
 

POST SCRIPTUM

Alguns títulos de Chiquinho Cavalcanti – Mestre FIDE

Nove Campeonatos Paraibanos

  • 1980 (Clássico Absoluto)
  • 1982 (Clássico Absoluto)
  • 1984 (Clássico Absoluto)
  • 1986 (Clássico Absoluto)
  • 1988 (Clássico Absoluto)
  • 1989 (Clássico Absoluto)
  • 1990 (Clássico Absoluto)
  • 2010 (Clássico Absoluto)
  • 2012 (Clássico Absoluto)

Dois Master Paraíba

  • 1992 (Paraibanos – Rápidas e Blitz)
  • 2012 (Paraibanos – Rápidas e Blitz)

    Francisco de Assis Cavalcanti – 29/07/1961 – 26/05/2025

 

Damião Ramos Cavalcanti

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