Em uma rua de João Pessoa, um taxista, Brasil, tem seu carro batido por um automóvel de luxo dirigido por um senhor idoso, Justinus. O choque desperta a indignação de Brasil, que recorre a apelos populares e sugestões da plateia improvisada – gente do povo, multidão, massas – para tirar proveito da situação: processar, chantagear, usar as redes sociais, até ganhar um “jeitinho” conveniente. Entra em cena Leiro, irmão de Brasil, com postura truculenta e soluções na base do “eu resolvo com ou sem recibo.

A peça se desenvolve em rodadas de conversas de pitaqueiros, que estão em torno dos carros batidos: sobre o conserto do carro, sobre como se aproveitar da situação, sobre como é o Brasil, sobre a solução final do problema e da contradição dos pitaqueiros e, enfim, uma análise antropológica do brasileiro segundo os nossos mais conhecidos estudiosos.

No clímax, Justinus retorna serenamente e assume a culpa, impõe reparos no carro, pagamento de despesas, coloca meninos para estudar, mostra generosidade e impossível autoridade institucional. O povo, que instigou o caos, se cala e se contradiz.

No momento final, surge uma espécie de “conselho dos intelectuais”: vozes como Darcy, Florestan, Freyre, Bomfim, Faoro, Furtado, Buarque e outros aparecem para pronunciar críticas profundas sobre as contradições do Brasil – o patrimonialismo, o conformismo, a desigualdade, a “gentileza racista”, o povo “ensinado a se odiar”, o Estado colonizado e a riqueza que circula em círculos. E, no desfecho, Brasil, em pé, conclui que a história não acabou e que ele mesmo precisa voltar a escrevê-la.

O Pino” é uma tragédia cômica que escancara o jeitinho brasileiro, a cultura de privilégio, a fraqueza institucional e o poder moral. Um convite urgente à reflexão: será que vamos continuar apenas assistindo o espetáculo da indiferença ou vamos voltar a reescrever a história?